Por R.T. Watson e Anders Melin.
A Vale tem se mostrado disposta a ampliar seus níveis de governança e a reduzir a lacuna de avaliação em relação aos seus concorrentes, incluindo uma reestruturação da companhia. Mas uma coisa ela ainda não se mostra disposta a fazer: divulgar os salários dos seus executivos.
A Vale vem realizando há meses uma transição para deixar de ser uma mineradora quase estatal e passar a ser uma operadora global autônoma e membro da elite corporativa do Brasil. Mas a adoção de padrões globais de transparência não se estende a uma apresentação detalhada da remuneração e o conselho tem se valido de uma decisão judicial de 2010 que tem por objetivo proteger os principais executivos de riscos de segurança como sequestro.
Nem todos os conselheiros da Vale concordam com a decisão tomada no fim de fevereiro, segundo a ata de uma reunião divulgada neste mês. As duas novas conselheiras independentes da Vale, Sandra Guerra e Isabella Saboya, tentaram sem sucesso que a remuneração fosse divulgada.
A Vale não é a única a manter em segredo os salários de seus executivos em um país com níveis de criminalidade e desigualdade muito mais altos do que os do Reino Unido e dos EUA. Mas faz parte de uma minoria.
Minoria
Entre os 140 membros do segmento mais estrito da bolsa, conhecido como Novo Mercado, apenas 22 empresas ainda mantêm em segredo os detalhes dos salários, alegando que expõem os executivos a riscos de segurança. Até a Petrobras, que esteve no centro das investigações da Operação Lava Jato, revela os detalhes dos pagamentos dos seus executivos exigidos pela CVM.
A CVM exige que as companhias divulguem a mínima, a média e a máxima remuneração que é paga aos seus principais executivos. As regras do Novo Mercado também fazem essa exigência, mas só para companhias que se tornaram membros neste ano. A Vale ingressou no Novo Mercado fim do ano passado.
“As empresas que não estiverem publicando a informação não estão sendo transparentes nem estão alinhadas às melhores práticas de governança corporativa”, disse Mauro Cunha, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (AMEC), com sede em São Paulo, em entrevista por telefone.
Nova política
A Vale disse, em resposta por e-mail a perguntas da Bloomberg, que ela e outras empresas de capital aberto vão avaliar neste ano a possibilidade de desenvolver uma nova forma de divulgação de remunerações. A empresa reiterou que a maior parte das compensações aos executivos envolve a capacidade de gerar valor para a companhia. As ações da Vale garantiram aos detentores um retorno de 50 por cento nos últimos doze meses, mais do que o triplo da média gerada pelos seus pares.
Como muitas das maiores empresas do Brasil, atualmente a Vale informa a remuneração agregada que paga aos seus seis gerentes seniores, entre eles o CEO Fabio Schvartsman. Fatos relevantes mostram que a empresa pagou cerca de US$ 28,8 milhões aos executivos em posições mais elevadas em 2017 e planeja aumentar essa quantia para US$ 31 milhões neste ano.
“Definitivamente, não é o padrão-ouro”, disse Wilbur Matthews, CEO da Vaquero Global Investment, em referência à decisão da Vale de não revelar detalhes das compensações. Embora possua títulos da Vale e goste dos fundamentos da empresa, ele disse que a transparência em relação aos salários é importante.
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