Por: Isabella Cota e Ben Bain.
As medidas sem precedentes do governo mexicano para proteger o peso são um bom começo.
A moeda registrou seu maior rali em cinco anos na quarta- feira depois que as autoridades anunciaram o aumento da taxa básica de juros, reformulação de um programa de intervenção para conter a volatilidade e redução dos gastos públicos. O peso caiu 8,9 por cento no ano até a terça-feira, o pior desempenho entre as principais moedas, e registrava uma queda de 31 por cento nos últimos 18 meses porque investidores venderam ativos de mercados emergentes.
O México se encontra em uma situação especial: a economia está relativamente em boa forma – com a previsão de que o crescimento do PIB vai acelerar pelo quarto ano consecutivo, com o setor industrial em expansão liderado pela produção automotiva e a inflação perto de mínima recorde –, mas a moeda sofreu mais do que a maioria. A queda dos preços do petróleo e o temor com a desaceleração da economia mundial geraram um efeito desproporcional porque a alta liquidez da moeda e o baixo custo do crédito fazem com que ela seja uma das preferidas dos traders que buscam proteção ao risco.
“O peso, por algum motivo, tem se desvalorizado mais do que outras moedas de mercados emergentes, mas os fundamentos continuam razoavelmente sólidos”, disse Gerardo Rodriguez, gestor de recursos da BlackRock em Nova York e ex-vice-ministro das Finanças do México. “Medidas como essas não são anunciadas todos os dias. Elas são o que se poderia esperar nessa situação”.
Queda do petróleo
As autoridades elevaram a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 3,75 por cento. Segundo o Barclays, foi a primeira vez que o banco central aumentou os juros em uma reunião surpresa. O presidente do banco central, Agustín Carstens, e o ministro da Finanças, Luis Videgaray, também disseram que o governo e a empresa estatal de petróleo reduzirão seus planos de gastos neste ano em 0,7 por cento do PIB para lidar com a queda dos preços do petróleo. As vendas da commodity são responsáveis por cerca de um quinto da receita do governo mexicano.
Elevar as taxas de juros pode ajudar o peso a operar mais em linha com os fundamentos econômicos, porque já não será tão barato tomar empréstimos na moeda como forma de proteção, segundo a Nomura Holdings e o Credit Suisse.
“O arsenal que o México implementou vai reduzir os incentivos dos investidores para se posicionarem contra o peso mexicano”, disse Alonso Cervera, economista-chefe do Credit Suisse para a América Latina, em uma nota aos clientes. “O custo de vender a moeda a descoberto subiu em 50 pontos-base e existe a possibilidade de que haja uma intervenção surpresa a qualquer momento”.
Crescimento do México
O México está entre os países produtores de petróleo de todo o mundo que estão sendo pressionados pelos preços do petróleo bruto. Na quarta-feira, a Standard & Poor’s cortou a classificação de crédito da Arábia Saudita, Omã, Bahrein e Cazaquistão, citando piora nas perspectivas de crescimento por causa da crise do petróleo. Na semana passada, as ações internacionais recuaram para bear market porque a queda dos preços das commodities e o temor em relação ao crescimento mundial fizeram com que os investidores fugissem de quase todos os ativos, menos dos mais seguros.
Mesmo assim, a previsão é de que o México crescerá 2,8 por cento neste ano, de acordo com a mediana das estimativas dos analistas consultados pela Bloomberg. A América Latina como um todo deve ter contração de 0,5 por cento e o Brasil caminha para sua pior recessão em mais de um século.
As autoridades expressaram nas últimas semanas uma preocupação crescente de que uma queda da moeda poderia alimentar a inflação por causa do aumento dos custos de importação. Desde dezembro de 2014, o banco central vendeu US$ 400 milhões em leilões diários, intervenções que o Morgan Stanley e outros estrategistas consideraram previsíveis e muito pequenas para reagir ao sentimento pessimista cada vez maior. De acordo com o plano anunciado na quarta-feira, em vez disso o banco central vai vender dólares diretamente aos bancos quando a volatilidade da moeda se tornar excessiva.
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