Por Marvin G. Perez.
O pessimismo domina há meses o mercado do café. No entanto, entre os executivos e traders reunidos em um dos maiores eventos do ano do setor, havia um otimismo cauteloso no ar.
Os preços caíram tanto que em breve obrigarão alguns produtores a reduzir os investimentos agrícolas, o que futuramente ajudará a diminuir a produção, disse Kona Haque, chefe de pesquisa da trader ED&F Man Holdings, com sede em Londres, em entrevista na conferência anual da Associação Nacional do Café dos EUA (NCA, na sigla em inglês). Os produtores com custos mais elevados, como os da América Central, provavelmente serão os primeiros a reagir, disse ela.
Opiniões semelhantes à de Haque se repetiram diversas vezes na conferência, realizada de 15 a 18 de março em Nova Orleans. O encontro teve cerca de 700 participantes, incluindo representantes de empresas de torrefação, traders, importadoras, produtoras e corretoras de café. A maioria dos participantes concordou que, com a queda de 18 por cento dos futuros do arábica nos últimos 12 meses, os fatores pessimistas do mercado já foram considerados no preço e expressou esperanças de que o mínimo será atingido em breve.
Outros destaques da conferência:
Safra brasileira
A enorme produção do Brasil é um dos principais responsáveis pela queda do café. A boa notícia para os otimistas é que a colheita talvez não seja tão grande quanto se esperava. Uma pesquisa realizada durante a conferência mostrou que traders e analistas esperam uma safra de 57,8 milhões de sacas, segundo a perspectiva média de nove entrevistados. Em janeiro, a agência de projeções agrícolas do País informou que a produção poderia subir até 30 por cento e atingir um recorde de 58,5 milhões de sacas. Cada saca pesa 60 quilos.
Produtores rivais
Como a grande safra do Brasil está derrubando os preços, outros países produtores estão ameaçados.
Roberto Vélez, diretor-geral da Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia, expressou “profunda preocupação” com o futuro da produção de seu país. Considerando a inflação, os preços locais caíram cerca de 0,7 por cento em relação à base anual das últimas décadas e atualmente estão em níveis semelhantes aos observados em 1983, disse ele, em entrevista, durante a conferência.
Um cenário semelhante está surgindo em Honduras, disse Basilio Fuschich, gerente-geral da Compañía Hondureña del Café, maior exportadora do país. O Brasil é o maior produtor mundial de grãos arábica, seguido por Colômbia e Honduras.
Maior volatilidade
Os especuladores mantêm uma aposta quase recorde na queda dos preços do arábica, mostram dados do governo dos EUA. A grande posição deixa o mercado vulnerável a surtos de maior volatilidade, especialmente considerando perspectivas de oferta relativamente equilibradas com a demanda, disse Julio Sera, consultor de gerenciamento de risco da INTL FCStone, em entrevista na conferência. Os avanços da colheita brasileira provavelmente gerarão oscilações nos próximos meses, disse.
Consumo nos EUA
A proporção de americanos que tomam café diariamente aumentou para 64 por cento em 2018, segundo pesquisa anual da NCA, que tem sede em Nova York. No ano passado, a fatia era de 62 por cento. O café continua sendo a bebida favorita do país, acima da água engarrafada, dos refrigerantes e do chá.
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