Por Piotr Skolimowski.
O euro interrompeu o movimento de queda do uso internacional da moeda visto na última década com uma maior circulação no ano passado. A mudança pode ser explicada pelas tensões geopolíticas, que diminuíram a demanda por dólares no período, segundo relatório do Banco Central Europeu.
A moeda única respondeu por quase 21% das reservas internacionais em 2018, um aumento de mais de um ponto percentual em relação ao anterior, disse o BCE em seu relatório anual sobre o papel internacional do euro. Enquanto o dólar respondeu por quase 62% do total, essa é a menor parcela desde o início da união monetária europeia há duas décadas.
“A turbulência financeira em algumas economias emergentes, as preocupações crescentes sobre o impacto das tensões no comércio internacional e os desafios ao multilateralismo, como a imposição de sanções unilaterais, parecem ter dado suporte à posição global do euro”, afirma o relatório.
O domínio do dólar ganha destaque diante das políticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. As disputas comerciais e questões como sanções ao Irã limitam o espaço da União Europeia para atingir suas metas de comércio exterior.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse no ano passado que é “absurdo” que a UE pague 80% de sua conta de energia em dólares, embora apenas uma fração dessas importações venha do país.
O presidente do Banco da França, François Villeroy de Galhau – um dos candidatos a se tornar o próximo presidente do BCE -, sinalizou recentemente que o banco central da zona do euro poderia assumir um papel mais ativo na tentativa de aumentar o uso do euro em transações internacionais. Ele disse que o dólar dá aos EUA uma clara vantagem no exercício do poder.
O relatório não vai tão longe. O presidente do BCE, Mario Draghi, disse no prefácio que tornar a união econômica e monetária “mais profunda e completa” – por exemplo, criando uma união dos mercados de capitais – ajudaria a impulsionar o papel do euro. Draghi destacou que o uso do euro também aumentou em emissões de dívida internacional e nos depósitos, mas se manteve “amplamente estável” como moeda de faturamento.
Benoit Coeure, membro do conselho executivo do BCE e outro candidato à sucessão, disse a repórteres que é muito cedo para dizer que o euro iniciou uma tendência de longo prazo de uso mais amplo.