Por Josué Leonel com a colaboração de Alex Lima.
O Brasil pode estar superando a “tempestade perfeita”, como ficou conhecida a combinação das crises política e econômica com o cenário externo adverso em 2015. A principal condição para que este novo quadro se confirme é que o Congresso aprove as reformas fiscais, diz Gabriel Gersztein, estrategista de renda fixa da unidade brasileira do BNP Paribas.
A visão do banco francês, mais otimista do que a média em relação às perspectivas para o Brasil, é de que a superação da crise política, o ajuste fiscal e a queda da inflação podem colocar o país em um ciclo virtuoso. A inflação menor e as reformas levariam o BC a cortar juros, reduzindo o custo da dívida e ajudando nos resultados fiscais, o que por sua vez reduziria a percepção de risco do Brasil no exterior e atrairia mais investimentos, derrubando o dólar e gerando mais pressão de baixa para a inflação, o que realimentaria o ciclo virtuoso.
O cenário atual indica que a combinação de solavancos sofridos pelo Brasil em 2015 foi superada, segundo Gersztein. No exterior, o petróleo se mostra mais estável após despencar para menos de US$ 30 no ano passado, quando a Opep disse que não controlaria mais a produção. A China também segue em crescimento, após ajudar a estressar os mercados ao desvalorizar o yuan em 2015. E os juros externos seguem baixos, apesar de o Fed ter feito uma primeira alta de sua taxa em dezembro passado.
O cenário doméstico também mostra alívio ou reversão em todos os fatores que desenharam a tempestade perfeita de 2015. No ano anterior, o Brasil mergulhou na crise política após a reeleição de Dilma, o déficit fiscal disparou, culminando com a perda do grau de investimento, a inflação superou 10% e o PIB mergulhou quase 4%. Nesse cenário, o dólar ter passado de R$ 4,00 no ano passado fez sentido, diz o estrategista do BNP.
Com base na melhora da confiança na economia, o BNP divulgou em 3 de outubro projeções menores para o dólar, que fecharia 2016 em R$ 3,15 e 2017 em R$ 3,00, após atingir R$ 2,90 no segundo trimestre do próximo ano. Os economistas do banco veem o BC começando a cortar os juros neste mês e projetam Selic caindo para 9,25% no final do próximo ano. O IPCA deve atingir a meta de 4,5% já em 2017. Juros menores devem ajudar o PIB a crescer 2% em 2017 e 3% em 2018, após recessão prevista em 3% para 2016.
Entre as ameaças que podem impedir o Brasil de ter um 2017 melhor estão a economia dos EUA, combinada à incerteza com a eleição americana. Gersztein considera que uma alta gradual dos juros americanos, que é o cenário mais provável, não deve prejudicar o Brasil. Ele observa, contudo, que esse quadro pode mudar se houver uma aceleração inesperada da inflação americana, o que poderia levar o Fed a ser mais agressivo.
Outro fator de risco é local. O otimismo crescente do mercado se baseia na ideia de que a base do presidente Temer no Congresso, vitoriosa nas eleições municipais, conseguirá aprovar, sem grandes mudanças, medidas fiscais como o teto para os gastos e a reforma da Previdência. No plano imediato, a chamada PEC do teto é crucial, diz o estrategista. A medida pode ser um primeiro passo para o ciclo virtuoso se materializar, mas também representa um risco se o Congresso não se sensibilizar com a urgência do ajuste fiscal.
Entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.