Por Jonathan Bernstein.
A despedida de Barack Obama da presidência dos EUA talvez tenha sido o maior tropeço de sua carreira. O que é triste, porque havia um discurso excelente querendo sair.
Começarei pelo que deu errado.
O problema central é que o evento e o discurso não deixaram claro a que vieram. A linha mestra, pelo que entendi, foi uma despedida clássica, no espírito de George Washington e Dwight Eisenhower – conselhos à nação, destilando o que ele aprendeu nos últimos oito anos, a ser levado a sério e lembrado.
Infelizmente, isso se perdeu em um discurso bagunçado, longo e de dupla personalidade. Obama oscilou entre campanha eleitoral, grandes feitos de seu governo (Bin Laden! Empregos! Cuba! Casamento!), medidas que ele apoia, uma oportunidade para agradecer família, assessores e eleitores – e voltou para o começo. O local, em Chicago, com um público de adoradores, deu a impressão de que até mesmo os trechos mais sérios eram esforço de campanha e não algo sério a ser considerado.
É triste porque Obama tinha o que dizer sobre democracia, como está ameaçada e o que pode ser feito a respeito.
Sob a rubrica de “reconstruir nossas instituições democráticas”, o presidente voltou a seu primeiro discurso nacional importante, proferido na convenção do Partido Democrata em 2004, no qual falou sobre a realidade de um país tão dividido. Obama (mais uma vez) usou o Iluminismo para defender conexões entre participação política, pensamento racional, tolerância e prosperidade econômica como uma combinação fundamental à democracia e ao melhor dos EUA. E ele recomendou que entendêssemos as forças de medo, desigualdade e irracionalidade como partes bastante reais dos EUA também — partes que a nação derrotou gradualmente, apesar de reveses recentes.
Esses são os temas de Obama. Com Donald Trump prestes a tomar posse, são ideias que poderiam ter sido apresentadas de forma mais contundente como um alerta e um caminho a ser seguido.
Alguns trechos foram excelentes. Saindo da presidência, ele estava em posição perfeita para falar que “mesmo com todas as diferenças exteriores, todos compartilhamos o mesmo cargo com orgulho: cidadão”. O presidente, que é professor de Direito e dá grande importância a participação, explicou que a Constituição é “na verdade só um pergaminho. Não tem poder sozinha. Nós, o povo, damos poder a ela”.
Mas as conexões entre o que funciona nos EUA nunca se juntaram e não ficou claro como se relacionam com as ameaças imediatas que ele mencionou (do Estado Islâmico ao autoritarismo), descreveu (polarização entre os partidos) e fez alusão a (Trump). Toda vez que ele parecia focar em grandes ideias, acabava falando sobre como as estatísticas de pobreza melhoraram no ano passado.
A audiência era outro problema. O discurso parecia direcionado não só às pessoas que apoiam o Partido Democrata e estavam lá. Mas se gabar dos sucessos de seu governo não conquista essa gente. Talvez ele devesse só participar do clima de festa e falar do resto em outra ocasião.
A boa notícia é que, embora Barack Obama não tenha dado o melhor discurso de despedida da história, ele não se aposentou. É provável que ele esteja em posição melhor do que qualquer um de seus antecessores para fazer importantes discursos como ex-presidente, considerando sua idade e seus talentos, habilidades e interesses. Quando acadêmicos e estudantes se debruçarem sobre os melhores discursos dele daqui a décadas, vão pular este e se dedicar aos que ele apresentou após deixar a Casa Branca.
Ele ainda tem muito a dizer. Agora quero ouvir o cidadão Obama.
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