Por Josue Leonel.
A definição das alianças para a eleição de 2018 neste fim de semana mostrou força das estruturas do PT e PSDB, os partidos que polarizaram todas as eleições presidenciais desde 1994. As duas siglas se impuseram na tarefa de angariar apoios e enfraquecer adversários, mas precisam confirmar a reação nas pesquisas. Os últimos números divulgados antes das convenções partidárias apontavam, no cenário sem o ex-presidente Lula, o favoritismo de nomes de fora do status quo político.
O PSDB de Geraldo Alckmin venceu o pedetista Ciro Gomes na disputa pelo apoio do chamado centrão e terá o maior tempo na TV. Ciro, aparentemente o maior derrotado no primeiro round eleitoral, ainda perdeu a disputa com o PT à esquerda e ficou sem os apoios do PCdoB, irá com o candidato petista, e do PSB, que ficará neutro. Jair Bolsonaro, por sua vez, não conseguiu uma vice mulher, que poderia ajudar a melhorar seu desempenho entre o público feminino.
Do ponto de vista da estratégia partidária, o PT e o PSDB tomaram as melhores decisões diante das circunstâncias de um cenário em que a população parece clamar por novos nomes na política, diz Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria. Os dois partidos mostraram as vantagens de serem atores preferenciais e conseguiram isolar os outros nomes, observa o analista. “Não houve emergência de um outsider. As estruturas partidárias se sobrepuseram às demandas por renovação.”
Para Christopher Garman, diretor executivo para as Américas da Eurasia, Alckmin foi o candidato que mais se beneficiou da disputa por alianças, pois teve uma “excelente escolha” com Ana Amélia como vice. O tucano precisa convencer os eleitores de Jair Bolsonaro e Alvaro Dias a migrar para sua candidatura e a senadora gaúcha, diz o analista, pode trazer os votos da região Sul.
O PT também se beneficiou, pois conseguiu retirar a candidatura de Manuela D’Ávila, com quem disputava o voto da esquerda, e ganhou tempo de TV. “Em um contexto de Ciro Gomes isolado, a candidatura do PT é a opção da esquerda”, diz o diretor da Eurasia, para quem Álvaro Dias e Marina Silva também conseguiram ser beneficiados pelas definições dos seus vices.
Para o PT, o desafio passa a ser convencer o amplo eleitorado de Lula a transferir seu voto para o ”plano B” do partido, que será Fernando Haddad, caso se confirme o veto à candidatura do ex-presidente. Para Alckmin, o desafio será persuadir o eleitorado mais conservador, que em outras eleições votou nos tucanos contra o PT, mas neste ano está com Bolsonaro.
O sucesso de Alckmin depende de o eleitorado de Bolsonaro ser resiliente ou não, observa Cortez, da Tendências. Neste aspecto, o fato de a vice Ana Amélia ser conhecida pelos embates com o PT também jogaria a favor do tucano, que perdeu o papel de antagonista dos petistas para Bolsonaro.
Alckmin mostrou crescimento na última pesquisa Ibope realizada em São Paulo, com 19% das intenções de voto, à frente de Bolsonaro (16%), na primeira sondagem após o ex-governador ter recebido o apoio do centrão. Agora, os investidores, que mostram preferência pelo tucano, acompanharão as próximas pesquisas nacionais para verificar se o crescimento se espalhará pelo país. “Há vários candidatos com potencial de ir para o 2º turno. Tende a ser uma eleição bastante apertada, deixando o mercado um pouco na defensiva”, diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.
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