A odisseia para entender as taxas de câmbio na Venezuela

Por Stephen Merelman.

A Venezuela apresenta muitos desafios ao visitante – estradas péssimas, dengue, ocasionais sequestros –, e um dos mais atemorizantes é gastar dinheiro.

A hiperinflação que relegou o bolívar ao status de dinheiro de brinquedo torna quase impossível fazer uma transação corriqueira, como comprar um café. A oscilação veloz da taxa de câmbio não oficial cria uma distorção cambial que provoca confusões insólitas para o comércio.

O problema básico é o volume. No dia em que eu cheguei, quis US$ 10 em dinheiro trocado. Só que eram 11 pacotes de cédulas de 100, 500 e 1.000 bolívares, de mais ou menos 2,5 centímetros de espessura cada um. Eu tive que levá-las ao hotel em uma sacola de mercado. Nenhuma das calças que coloquei na mala tinha bolsos suficientes para tudo aquilo.

Existe uma espécie de explicação. O país-membro da Opep, governado pelo presidente Nicolás Maduro e assolado por sanções, criou um conjunto complexo de controles cambiais para frear a queda do bolívar. Há várias taxas de câmbio importantes, entre elas: a oficial, de cerca de 10 bolívares por dólar; a Dicom (sigla de “Sistema de Divisas de Tipo de Cambio Complementario Flotante de Mercado”), de cerca de 3.345 por dólar e reservada a empresas privadas; e a taxa real do mercado negro, que muda com frequência, geralmente para baixo.

Ela era de cerca de 38.000 na manhã de segunda-feira e de 40.000 pela tarde.

Odisseia

Na rua, cada transação exigia uma rápida divisão mental dos preços pelo divisor do momento, enfiar a mão no bolso para pegar um maço de notas e depois uma longa sessão de contagem. A situação mudaria completamente se eu usasse meu cartão corporativo American Express. Mas esse cartão não é aceito em qualquer lugar em um país chamado de ditadura pelos EUA e, de qualquer forma, eu não queria chamar a atenção como gringo privilegiado, com um cartão de crédito internacional e um espanhol desajeitado. Sem cartão de um banco local, eu precisava dar um jeito. A solução foi meu colega Andrew Rosati.

Além de um excelente guia e intérprete dos costumes venezuelanos, ele era uma carteira ambulante. O café da manhã, ele pagou. O almoço, ele pagou. Rum, ele comprou. Antes de sair do país, nós acertamos as contas com dólares – cerca de US$ 150 por uma viagem de uma semana.

Na manhã em que eu iria embora de Caracas, eu tinha gastado uns 10 por cento dos bolívares que eu tinha trocado sete dias antes, a julgar pelo peso. Peguei alguns maços como lembrancinhas e deixei o restante na cômoda do quarto do hotel com alguns dólares para a camareira.

Agora, prestes a sair para almoçar em Nova York, vejo o rosto de Simón Bolívar, com suas costeletas, em uma pilha de cédulas de 100 sobre minha mesa e lembro da sorte que é saber que hoje um sanduíche de atum vai custar o mesmo que amanhã.

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