Por Grant Smith.
O plano da Opep para elevar os preços do petróleo reduzindo a produção fracassou, mas a organização tem poucas alternativas além de mantê-lo.
O petróleo desfez todos os ganhos obtidos desde que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) fechou acordo para redução da produção, em novembro.
Apesar de o grupo ter implementado os limites, a recuperação da produção de xisto dos EUA e os estoques obstinadamente elevados mostram que a abundância mundial de petróleo, que já dura três anos, não está mudando. Nem mesmo os sinais da Arábia Saudita e da Rússia de que prolongarão as reduções de oferta interromperam a queda.
Contudo, a Opep terá pouco espaço de manobra quando se reunir em Viena, em 25 de maio, para discutir o acordo, e está quase certo que manterá a estratégia, porque as alternativas parecem ainda piores. Se a organização aprofundar os cortes, uma oferta ainda maior de xisto entrará no mercado para preencher a lacuna, segundo o UBS. Abandonar essa política e restaurar a produção infligiria o revés econômico do petróleo abaixo de US$ 40, prevê o Citigroup.
“O risco de um corte maior é que isso possa desencadear um aumento muito forte nos preços e apoiar o xisto dos EUA”, disse Giovanni Staunovo, analista do UBS em Zurique. “Se eles mudarem de estratégia, a Arábia Saudita vai perder moral. Não dá para revelar o desejo de reduzir os estoques e desistir depois de alguns meses.”
O petróleo atingiu o menor patamar em cinco meses, de US$ 43,76 por barril em Nova York, na sexta-feira, e era negociado a US$ 46,18 às 10h27 pelo horário local.
Sem munição
A forte queda ocorreu mesmo após a declaração do ministro de Energia russo, Alexander Novak, de que seu país estava “inclinado a” estender os cortes à produção no segundo semestre. Ele repetiu o dito por seu colega saudita, Khalid al-Falih, que havia afirmado em 26 de abril que existe um consenso preliminar para prolongar o acordo com o apoio de outros países da Opep, como Kuwait e Iraq.
Como a Opep já mostra um cumprimento quase total do corte de produção prometido de 1,2 milhão de barris por dia e a extensão do acordo parece provável, o grupo tem pouca munição de sobra em sua batalha para elevar os preços.
“O acordo da Opep estava condenado ao fracasso desde o princípio”, disse Eugen Weinberg, chefe de pesquisa de commodities do Commerzbank. “Se eles ampliarem os cortes, o efeito vai durar pouco. A Opep se verá na mesma posição dentro de seis meses, mas os produtores de fora da Opep terão ganhado mais participação de mercado até lá.”
Dados pessimistas
Apesar de a Agência Internacional de Energia ainda prever uma redução rápida do excesso de oferta no segundo semestre deste ano caso a Opep mantenha seus cortes, os dados disponíveis no momento mostram poucos sinais de sucesso.
Os estoques globais de combustível podem, na verdade, ter aumentado durante o primeiro trimestre, estima a AIE. Nos EUA — maior consumidor mundial –, os estoques de petróleo bruto estão em queda, mas continuam perto de níveis históricos. Enquanto isso, a produção do país voltou a subir, crescendo 523.000 barris por dia neste ano, para o nível mais alto em quase dois anos, com o retorno dos investimentos, segundo a Administração de Informação de Energia dos EUA.
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