Por Julian Lee.
A Opep terá que fazer muito mais do que simplesmente prolongar seu acordo atual de produção na reunião da semana que vem se realmente quiser solucionar a questão do excesso de estoque. De fato, os próprios números do grupo mostram que é preciso duplicar o corte feito em janeiro. Isso significa encontrar mais 1,2 milhão de barris por dia para eliminar da produção.
Em sua projeção mais recente, publicada na semana passada, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) diminuiu sua estimativa para a necessidade de petróleo da Opep neste ano em 300.000 barris por dia. A esse nível de produção — 31,92 milhões de barris por dia –, os estoques permanecerão estáticos, considerando que a demanda e a projeção de oferta de fora da Opep estejam corretas.
A Opep produziu 31,74 milhões de barris por dia em abril, segundo estimativas de fontes secundárias publicadas pelo grupo. A simples manutenção desse nível por mais seis meses consumirá o excesso a uma taxa média de 722.000 barris por dia no segundo semestre e fará com que cerca de 120 milhões de barris sejam removidos dos estoques no período de nove meses que começou no fim de março. Pode parecer muito, mas a Opep calcula o excesso no fim do primeiro trimestre em 276 milhões de barris — e isso apenas nos países desenvolvidos da OCDE.
O simples prolongamento dos cortes não levará os estoques de petróleo para perto de seu nível médio de cinco anos no fim de dezembro. E deixemos de lado o fato de que a média de cinco anos foi inflada por dois anos de abundância, o que significa que os estoques terão que ficar significativamente abaixo desse patamar para retornar aos níveis normais.
A implementação do acordo até o momento tem sido melhor que o esperado, mas isso ressalta mais sua fragilidade do que qualquer outra coisa.
Garantir o cumprimento do acordo no segundo semestre provavelmente será muito mais difícil. Diversos produtores importantes atingiram suas metas simplesmente antecipando manutenções em campos de petróleo e refinarias. A extensão dos cortes exigirá sacrifícios reais, como desativar a produção e reduzir exportações.
Existe o risco até de que esses sacrifícios não sejam suficientes.
A produção norte-americana está aumentando e há sinais de recuperação na Líbia e na Nigéria.
O Departamento de Energia dos EUA publicou recentemente uma nova projeção que novamente modificou para cima a produção de petróleo do país. A expectativa agora é que a produção de petróleo bruto aumentará 960.000 barris por dia entre dezembro de 2016 e dezembro de 2017. O número contrasta com o aumento de 210.000 barris por dia projetado pouco antes da reunião de novembro da Opep. Adicione 470.000 barris por dia de aumento da produção de líquidos de gás natural e todo o corte da Opep estará mais que compensado.
Os números da Opep mostram que o grupo precisa limitar sua produção total a 30,88 milhões de barris por dia a partir de julho para consumir o estoque excedente da OCDE — uma queda de 900.000 barris por dia em relação aos níveis atuais. Mas como a Líbia e a Nigéria, que estão isentas do acordo de redução de oferta, estão restaurando a produção após meses de distúrbios, serão necessários cortes ainda mais profundos.
Se a Opep quiser eliminar o estoque excedente até o fim do ano, seus integrantes terão que aceitar algum sacrifício real. Mesmo assim, existe o risco de que suas ações estimulem uma oferta maior do xisto dos EUA. É hora de tomar decisões difíceis.
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