Por Josue Leonel com a colaboração de Davison Santana e Vinícius Andrade.
Otimismo com a perspectiva de reforma da Previdência lança dúvidas sobre a ideia de que reação do mercado à aprovação da proposta será assimétrica. Por esta visão, a reforma já estaria em grande parte precificada após a bolsa renovar seu recorde histórico e o dólar voltar ao patamar em torno de R$ 3,70. Assim, o risco de uma correção forte de baixa da bolsa e de alta do dólar no caso de fracasso da reforma seria maior do que de ganhos substanciais dos ativos brasileiros em caso de uma aprovação já esperada.
Mais recentemente, duas variáveis tiveram evoluções favoráveis e que podem ampliar o potencial de ganho dos ativos brasileiros. Internamente, aumentou a possibilidade de o governo Bolsonaro enviar uma reforma da Previdência mais dura ao Congresso, com economia de até R$ 1 trilhão em 10 anos, embora propostas menos ambiciosas também continuem sendo discutidas. Ao mesmo tempo, a possibilidade de eleição de um presidente da Câmara afinado com o governo reforçou o otimismo sobre as chances de a medida passar no Congresso.
Além da reforma, um segundo fator crucial, principalmente no câmbio, é a política do Fed. O BC americano vem adotando um tom mais brando, sugerindo que em algum momento poderá ser interrompida a alta de juros que ajudou a sustentar o dólar forte nos últimos anos. O Fed era a justificativa da cautela de parte do mercado em relação ao real brasileiro este ano, apesar do otimismo com o governo. Se este fator de risco for retirado, o caminho para uma baixa mais pronunciada do dólar poderá ser aberto. A eventual quebra de um padrão gráfico conhecido como “cabeça e ombro”, por exemplo, poderia levar a cotação para o patamar de R$ 3,20 ou menos.
Na bolsa, o Ibovespa pode chegar a cerca de 106.000 pontos no fim do ano segundo a mediana das estimativas de analistas consultados pela Bloomberg, 12% acima do índice atual. O ganho moderado se justificaria pelo fato de o Ibovespa já ter renovado sua marca histórica desde a eleição, antecipando-se às reformas. Se a agenda do governo, que também inclui privatizações, surpreender positivamente, é possível que os ganhos da bolsa também superem as projeções. Mesmo com as altas recentes, o índice segue longe do seu recorde em dólar, atingindo em 2008 quando o país era grau de investimento e o índice superou 44.000 pontos, ante os atuais 25.000.
Se o mercado pode ter dúvidas sobre o tamanho do ganho dos ativos em caso de as reformas serem aprovadas, o risco de deterioração em caso de um fracasso total do governo – hoje visto como improvável – pode ser medido pelos níveis dos ativos brasileiros em períodos de maior pessimismo com as contas públicas e a economia. Três anos atrás, no auge da crise política do governo de Dilma Rousseff, o Ibovespa chegou a ficar abaixo de 40.000 pontos, o dólar acima de R$ 4,10 e o risco medido pelo CDS superou 500 pontos.
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