Por Christopher Langner.
Existe um velho ditado no mercado de ações: compre o rumor, venda o fato. Os investidores no Brasil vêm fazendo o oposto. Enquanto manifestantes exigem o impeachment da presidente Dilma Rousseff, os estrangeiros compradores de ações e bonds adquirem mais e mais papéis brasileiros e estão prontos para aumentar as apostas. Há poucas semanas, a crise política os convencia a vender.
No entanto, um processo de impeachment provavelmente será demorado e, mesmo com os protestos, não se sabe se Dilma terminará seu mandato. Há três possibilidades de a presidente perder o cargo — o que parece ser a expectativa dos investidores estrangeiros. A única forma rápida é a renúncia, algo que Dilma disse várias vezes que não ocorrerá.
Na quinta-feira, o Congresso retomou o processo de impeachment, que estava parado havia meses, formando uma comissão para recomendar se a Câmara dos Deputados deve votar pela remoção de Dilma do cargo. A comissão tem 15 sessões (e as comissões da Câmara não necessariamente se reúnem todos os dias da semana) para ouvir a defesa de Dilma e chegar a uma conclusão. Parlamentares leais ao governo provavelmente atrasarão o processo, talvez por meses.
A terceira rota é menos política, mas não é mais rápida. O Tribunal Superior Eleitoral investiga desde o ano passado se foi usado dinheiro oriundo de corrupção na eleição de Dilma em 2014. O governo Dilma nega qualquer irregularidade. Pedidos similares envolvendo prefeitos e governadores levaram mais de um ano, em média.
Quando o processo judicial ou o de impeachment terminar, os protestos poderão ter diminuído e as reviravoltas ao longo do caminho poderão gerar manchetes indicando que Dilma terminará seu mandato. Essas notícias poderiam causar impactos no Ibovespa e na taxa de câmbio.
O Brasil não está necessariamente barato. A razão preço/lucros futuros do Índice Bovespa está em 14,1, quase um desvio padrão acima da média de cinco anos, de 11,9. A taxa de câmbio se aproximou recentemente da média móvel em 55 semanas, um nível de resistência importante que foi ultrapassado — por curtos períodos – pouquíssimas vezes nos últimos cinco anos.
Os investidores querem aproveitar uma eventual disparada dos ativos brasileiros desde o começo. Mas correr para o Brasil na esperança de que a revolta popular se traduzirá em mudança política pode se desdobrar como uma tentativa de pegar uma faca no ar.
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