Por Julia Leite, Paula Sambo e Aline Oyamada.
Está difícil encontrar um pessimista entre os investidores do Brasil hoje em dia, embora não faltem motivos de preocupação.
Os traders que levaram o real e o Ibovespa a registrar alguns dos maiores avanços do planeta durante os últimos 12 meses veem um panorama otimista para as chances de que o presidente Michel Temer consiga aprovação para as reformas previdenciária, trabalhista e tributária. Eles estão ignorando os sinais de lentidão da economia, o caos político e um novo capítulo do escândalo de corrupção que poderia paralisar o governo.
O fato de que os investidores estejam fazendo vistas grossas aos problemas do Brasil é ainda mais surpreendente quando se considera que muito recentemente os mercados e a economia do país pareciam estar em queda livre. A moeda despencou para um piso recorde em 2015 e as ações afundaram para o patamar mais baixo em sete anos em meio à pior recessão em um século e a uma turbulência política que provocou impeachment da presidente. Mas tudo isso foi perdoado quando Temer assumiu com um plano para reanimar o crescimento e fortalecer o orçamento, e o Banco Central prometeu reduzir os juros para ajudar a revigorar a economia.
“O Brasil está na UTI e está reagindo um pouco a uma dose cavalar de remédio”, disse Paulo Bilyk, diretor de investimento da Rio Bravo Investimentos, que administra R$ 11 bilhões (US$ 3,5 bilhões) em ativos. “Mas para sair do hospital ainda precisamos passar por cirurgias — a reforma previdenciária, a reforma trabalhista, a reforma tributária.”
Bilyk, que fundou a Rio Bravo com o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, diz que os traders estão calculando que o governo conseguirá 80 por cento do que pretende com as reformas tributárias. Se o governo ceder às demandas de modificar medidas impopulares mais do que isso —digamos, 50 por cento do plano original —, os mercados vão cair.
A agenda de reformas do governo poderia ser derrubada pela divulgação dos depoimentos de mais de 70 executivos da Odebrecht, que admitiu ter pagado propinas a políticos e partidos políticos em troca de contratos lucrativos. A imprensa local apelidou a divulgação dos detalhes colhidos de “delação do fim do mundo” por causa da probabilidade de que várias figuras públicas sejam implicadas nos esquemas.
Economistas projetam que o PIB do Brasil crescerá em 2017 pela primeira vez em três anos, mas até mesmo os investidores mais otimistas indicam que o crescimento é uma de suas principais preocupações. Os consumidores continuam extremamente endividados, as empresas relutam em investir e há indícios de que a alta das commodities que respaldaram as exportações do país está chegando ao fim. Os preços estão começando a oscilar devido ao receio de que a demanda não absorva a oferta.
Mas os otimistas estão concentrados em outra coisa, principalmente nas promessas de Temer de reativar a economia e arrumar a bagunça fiscal que fez com que o Brasil fosse rebaixado a junk em 2015. Eles indicam que, até o momento, o governo cumpriu todas as suas promessas.
Isso ajudou as ações a registrar uma alta de 55 por cento em dólares nos últimos 12 meses e fez com que o real subisse 16 por cento. O valor de empresas estatais, como a Petrobras e o Banco do Brasil, dobrou, e o risco dos papéis, medido de acordo com os swaps de crédito, caiu quase à metade.
Até mesmo Bilyk, apesar de suas reservas quanto à estabilidade do governo, aumentou recentemente suas posições em ações, apostando que elas aumentarão mais 10 por cento até o fim do ano. Outros nomes de peso, como BlackRock e Fidelity, também estão confiantes de que a alta vai continuar como resultado da queda dos juros, da desaceleração da inflação, de melhorias econômicas e, acima de tudo, de que o governo realize as reformas prometidas.
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