Por Josue Leonel com a colaboração de Patricia Lara e Vinícius Andrade.
O otimismo do mercado com a inflação no menor nível em quase duas décadas e taxas de juros no piso histórico recebeu uma ducha fria com a divulgação do IPCA de dezembro nesta quarta-feira. O dado mensal, de 0,44%, superou todas as estimativas e o número fechado de 2017, de 2,95%, também ficou acima das previsões, mesmo abaixo do piso da meta pela primeira vez. Como resultado, os investidores reduziram as apostas em corte adicional da Selic em março e passaram a ver mais chances de que os juros passem a subir já neste ano.
O governo comemora a queda da inflação, mais de três vezes menor hoje que no começo de 2016, quando o índice se aproximou de 11%, refletindo um mal-estar econômico que contou pontos para o impeachment de Dilma Rousseff. Como manda o regime de metas inflacionárias, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, tem de encaminhar uma carta para explicar porque o IPCA ficou fora do intervalo definido pelo Conselho Monetário Nacional, de 3% a 6%.
O fato de o número ter superado previsões em dezembro levou o mercado de juros a reduzir as apostas em um corte adicional da Selic para 6,50% em março. A expectativa de mais um último corte para 6,75%, em fevereiro, continua de pé. Além disso, após o IPCA, os investidores também colocaram mais fichas numa possível retomada da alta dos juros ainda este ano, entre agosto e outubro, um período crítico por ser véspera da eleição presidencial.
Uma combinação de fatores tende a levar a um IPCA mais alto em 2018, quando o índice deve fechar em 4%, contra os 2,95% deste ano, diz Tony Volpon,economista do UBS e ex-diretor do BC. A inflação estaria passando por uma “normalização”, favorecida pelos sinais de maior crescimento da economia, estimado em 3,1%. Apesar de ainda não ter revisado projeções, ele reconhece que a expectativa sobre juros poderá ter de subir.
Volpon coloca ainda a alta da inflação do Brasil no contexto global, em que o aumento dos preços começa a despontar como reflexo dos números mais vigorosos das economias dos EUA, China e Europa. “O maior risco na economia mundial agora é a inflação”, diz. Essa pressão oriunda do maior crescimento econômico já se reflete na alta de commodities como o petróleo e na elevação dos juros do Tesouro americano para acima de 2,5%. Nesta quarta, informação da Bloomberg sobre dúvidas da China quanto à compra de títulos americanos também impulsiona as taxas externas.
Alta acima do previsto da inflação, mesmo combinada com dados recentes de atividade, não fecha a porta para mais um corte da Selic, de 0,25 ponto percentual, no próximo Copom, escreve em relatório Alberto Ramos,economista-sênior do Goldman Sachs. Certamente, porém, o número reduz a chance de uma redução mais generosa, de 0,50 pp, ou de que o alívio monetário se estenda até março, diz o economista.
A queda da inflação em 2017 foi amplificada pelos alimentos. Se esses preços tivessem se comportado na média dos últimos 10 anos, observa Ramos, a inflação teria ficado em 5,6%, um dado menos benigno do que os 2,95% efetivamente registrados e mais perto do teto do que do piso da meta. A baixa da inflação no ano passado também teria de ser ponderada por ter se seguido a dois anos de recessão, em contraponto ao crescimento previsto para o PIB em 2018.
O IPCA de dezembro não ajuda a ideia de que o ciclo de flexibilização monetária poderia seguir além de fevereiro, disse Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra. Para ele, o número mais alto coloca a necessidade de alguma atenção sobre a evolução da inflação.
Maurício Nakahodo, economista do Mitsubishi UFJ Financial Group no Brasil, explica a alta da inflação em dezembro pelos alimentos, que refletiram o fim do impacto do benefício da safra recorde do ano passado. O economista ainda espera mais um corte da Selic para 6,75%, mas considera que a taxa volta a subir já em outubro, quando deve ter início um ciclo de aperto até março de 2019 que levaria a taxa até 8%.
Além da atividade econômica, analistas também terão de considerar outros fatores relevantes em 2018 para as expectativas: o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 24 de janeiro, e a eleição presidencial.
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