Por Ben Bain com a colaboração de Matt Robinson.
As tecnologias que revolucionam Wall Street deixaram os órgãos reguladores de Washington em um eterno corre-corre.
Os traders costumavam deixar trilhas de papel quando violavam a lei — e-mails que revelavam que eles tinham informações privilegiadas sobre os resultados de uma empresa, mensagens instantâneas que explicitavam uma conspiração para manipular preços ou gravações de conversas telefônicas em que uma dica quente e ilegal era discutida.
Agora, os órgãos de fiscalização do governo têm que descobrir como analisar as engrenagens das máquinas que executam algoritmos velozes ou software de aprendizagem de máquina. O perigo é que os trapaceiros possam esconder as violações ou que, acidentalmente, transformem uma falha do software em uma crise do mercado. E há poucos precedentes legais em que os reguladores tenham usado código de computador como evidência para processar má conduta.
Para acompanhar o ritmo, agências como a Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) e a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) talvez precisem repensar quem contratam. Elas poderiam se inspirar nos hedge funds e bancos de investimento, que têm recorrido a profissionais que sabem escrever código de computador, não apenas a traders com MBAs.
Traders fracassados
“Você precisa é de gênios da computação que tenham fracassado no trading com algoritmo e que estejam dispostos a mudar de lado”, disse Brad Bennett, que era chefe de policiamento da Autoridade Regulatória da Indústria Financeira (Finra, na sigla em inglês) até o início deste ano. “Você precisa poder desconstruir o código.”
A Finra, que é financiada pelo setor financeiro, atua como um órgão regulador de linha de frente para corretores. Ela analisa montanhas de dados do trading para tentar localizar compras e vendas suspeitas, e normalmente passa o que encontra à SEC.
Uma preocupação particular entre os funcionários da SEC e da CFTC é que, à medida que as negociações automatizadas se tornam cada vez mais prevalentes, pode aumentar a probabilidade de que os problemas do mercado se espalhem rapidamente. Uma ordem equivocada — ou até mesmo apenas uma ordem desproporcional — é captada por computadores que contam com inteligência artificial para ler sinais de dados. Em menos de um piscar de olhos, há um efeito em cascata nos mercados.
O trading automatizado já foi culpado por contribuir com diversos problemas, como a flash crash das ações dos EUA em maio de 2010 e a volatilidade durante a crise da dívida soberana europeia. Ainda assim, quando os órgãos reguladores tentaram intensificar a fiscalização, eles encontraram uma forte oposição do setor.
As brigas dos órgãos reguladores com o setor ressaltam um desafio maior: agências governamentais com recursos limitados tentam manter o controle sobre os gigantes financeiros, segundo Aitan Goelman, um ex-chefe de policiamento da CFTC. A SEC tem um orçamento anual de cerca de US$ 1,6 bilhão, e o da CFTC é de US$ 250 milhões.
“Não há dúvida de que a CFTC, em particular, está criticamente subfinanciada”, disse Goelman, que agora dirige o escritório de litígios de títulos e commodities da Zuckerman Spaeder. Isso “torna muito difícil para a agência cumprir sua missão em seus distintos mercados, muitos dos quais estão mudando a uma velocidade vertiginosa”.
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