Por Gerson Freitas Jr. e Tatiana Freitas.
A Rumo, companhia que domina o transporte ferroviário de grãos no Brasil, está diante de uma disputa com pesos-pesados do comércio agrícola mundial, como Bunge e Louis Dreyfus. Em jogo, os termos dos novos contratos de longo prazo que vão pautar a relação entre eles a partir do ano que vem.
Os contratos de transporte atuais, que vencem neste ano, possuem uma cláusula que está dividindo a operadora logística e as tradings, chamada de “take or pay”. Pela regra, as exportadoras asseguram um espaço para suas cargas nos vagões da Rumo a um preço pré-estabelecido, mas são obrigadas a pagar um valor para a operadora mesmo quando não tem qualquer soja ou milho para transportar.
Duas safras atrás, quando uma seca reduziu drasticamente a oferta de milho para exportação, as tradings se viram forçadas a pagar R$ 283 milhões (US$ 85 milhões) à Rumo por causa da regra. Em alguns momentos do ano passado, as tradings aceitaram comprar soja com prejuízo apenas para preencher o espaço contratado nos vagões da companhia e evitar a multa.
“Não queremos nos prender a uma situação em que nos vemos forçados a originar com margens negativas, como foi o caso da maior parte do setor no ano passado”, disse o CEO da Bunge, Soren Schroder, a investidores, em fevereiro. “Não há razão para isso.”
As tradings querem flexibilizar a regra. Segundo Luis Barbieri, presidente da Associação Nacional de Exportadores de Cereais, o gerenciamento do risco logístico pelas companhias do setor deveria levar em conta a volatilidade do mercado e a velocidade com que o produtor deseja vender a sua produção.
“A forma como a gente gere o risco logístico é ruim. O setor assume mais riscos do que deveria,” afirma Barbieri, sem se referir especificamente ao “take or pay”.
Já a Rumo quer manter os termos do contrato em vigor por uma razão clara. As cláusulas de “take or pay” ajudaram a estabilizar suas margens de lucro mesmo quando a demanda caiu por caiu por causa da quebra da safra.
Rumo, Bunge e Louis Dreyfus não responderam aos pedidos de comentário sobre as negociações.
Embora a cláusula contratual possa ser desvantajosa no curto prazo, as tradings devem se beneficiar dela em alguns anos, quando a capacidade logística do país — que se expandiu nos últimos anos após uma série de investimentos — deverá ser novamente pressionada pelo aumento da demanda por transporte de grãos, explica André Pessôa, diretor da Agroconsult.
“Em três anos vamos voltar a bater no limite, e o risco para a trading é ficar fora dessa logística e não consiguir acessá-la ao custo que está sendo contratado hoje”, afirma Pessôa.
No Brasil, os exportadores gastam em média US$ 2,31 por bushel para transportar a soja de Mato Grosso ao porto de Santos, mais que o dobro do que se gasta nos EUA, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que tem Bunge e Cargill entre seus membros. Ainda assim, os custos no Brasil diminuíram nos últimos com a criação de rotas alternativas pelo Norte do país.
“A flexibilidade tem um custo — todos querem flexibilidade, mas é preciso calcular esse custo”, afirma o CEO da Rumo, Julio Fontana Neto. “As tradings ficaram muito neuróticas com os prejuízos do milho em 2016.”
A alternativa aos contratos de longo prazo com cláusulas de “take or pay”, afirma, é mercado à vista. “Se é isso que as tradings querem, tudo bem, mas isso aumentará ainda mais os custos de frete”.
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