Por Tatiana Freitas e Jeff Wilson.
La Niña está dando aos produtores de soja brasileiros um lucro incomum e inesperado em plena colheita.
O padrão climático intensificou a seca na Argentina, que se tornou a pior do país em mais de 30 anos. Mas o prejuízo da Argentina beneficiou o Brasil. Os países disputam participação de mercado no comércio global da soja nesta época do ano e a produção perdida pelos argentinos ajudou a elevar os preços mundiais.
Os produtores de Sorriso, município de Mato Grosso que tem a maior produção no Brasil, estão obtendo cerca de R$ 60 por saca de 60 quilos, o preço mais alto já registrado para esta época do ano, no auge da colheita, segundo dados do Cepea, centro de pesquisas da USP.
“É um cenário totalmente diferente do que esperávamos no início da safra”, disse Endrigo Dalcin, produtor do município de Nova Xavantina, em Mato Grosso. “Estamos chegando perto do preço que pode proporcionar lucros razoáveis aos produtores”, disse o produtor, que plantou 4.350 hectares de soja neste ano.
Aumento fora de época
Em Sorriso, a soja subiu cerca de 10 por cento em 2018. A alta de preços nesta época do ano é incomum devido ao aumento na oferta do produto enquanto a colheita se aproxima do final nas principais regiões produtoras.
No final de fevereiro, os produtores estavam obtendo uma margem bruta de R$ 1.382 por hectare, ou cerca de um terço a mais do que no ano anterior, disse Enilson Nogueira, analista da consultoria Céleres, com sede em Uberlândia. O lucro também era 76 por cento maior do que o calculado em agosto, quando as estimativas de preços e de produção eram menores. As estimativas dele se basearam nos preços registrados no fim de fevereiro.
“Se os preços continuarem em um bom nível no primeiro semestre de 2018, a situação afetará a decisão de plantio dos produtores na próxima safra. Podemos ter um aumento de área semelhante ao deste ano ou até maior”, disse Luiz Fernando Roque, analista da consultoria Safras & Mercado, em entrevista por telefone de Porto Alegre.
Os preços mais elevados da soja também podem melhorar as projeções atuais para as vendas de máquinas no Brasil, disse Christopher Ciolino, analista da Bloomberg Intelligence em Skillman, Nova Jersey, nos EUA. Isso seria uma boa notícia para empresas como a Deere & Co, a maior fabricante de equipamentos agrícolas do mundo, a AGCO e a CNH Industrial, que já preveem um aumento de 5 por cento nas vendas, disse ele.
Incentivando as vendas
À medida que os preços aumentam, os produtores optam por vender a soja ao invés de armazená-la, disse Pedro Dejneka, sócio da MD Commodities, com sede em Chicago, em entrevista por telefone. Até a semana passada, em média mais de 42 por cento das vendas da safra recorde deste ano no Brasil estavam finalizadas, acima de 35 por cento no ano passado, disse ele.
O Brasil já roubou participação de mercado dos EUA e destronou o rival norte-americano como primeiro exportador de soja do mundo.
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