Por Vinícius Andrade e Josue Leonel.
Marcado por turbulências políticas e uma retomada ainda modesta do crescimento, o ano fechará com ao menos um alívio. A previsão unânime dos economistas é de que o Copom da próxima quarta-feira, última reunião de política monetária de 2017, deve cortar a taxa básica de juros de 7,5% para 7%. Dessa forma, a Selic alcançará nova mínima histórica, abaixo dos 7,25% atingidos em outubro de 2012.
A maior dúvida do mercado é se o Banco Central prosseguirá ou não com os cortes após a decisão da próxima semana. Analistas acreditam que, diante de um quadro repleto de incertezas, que vão do risco de adiamento da reforma da Previdência às eleições presidenciais de 2018, o BC tende a manter no texto do comunicado do Copom a porta aberta tanto para um encerramento do alívio monetário quanto para um novo corte no início do ano que vem.
O Copom deve “desamarrar as suas próprias mãos”, ficar mais dependente de dados e deixar as portas abertas, de acordo com Mauricio Molon, economista-chefe do Santander Brasil. “Faz sentido que o BC tenha uma margem para manobrar a política monetária”, disse Molon, em entrevista na sede do banco em São Paulo. A visão é compartilhada por Mauricio Oreng, estrategista do banco Rabobank no Brasil. “Não acho que o BC vai falar que ’é 7% e acabou’ de imediato e deve passar um sinal no sentido de que pode ou desacelerar ou encerrar o ciclo na próxima reunião”, segundo Oreng.
A estimativa de que a Selic vai ser cortada em 0,50 ponto percentual estáprecificada na curva de juros e é prevista pela unanimidade dos economistasem pesquisa da Bloomberg. Para a próxima reunião do Copom em fevereiro, contudo, as apostas no mercado de DI se mostram divididas entre a estabilidade, o que configuraria o corte de dezembro como o final do ciclo de alívio monetário, ou uma redução de 0,25 ponto percentual.
Para parte dos economistas, no mínimo mais um corte de juros pode ser permitido por um quadro que inclui inflação rodando um pouco acima de 3% em 2017, uma recuperação lenta e gradual da atividade, confirmada pelo PIB do terceiro trimestre, capacidade ociosa elevada da economia e expectativas ancoradas. O mercado também aponta taxa estável durante boa parte de 2018 e, apesar de alguns analistas enxergarem a necessidade de um aperto no fim do próximo ano, há quem veja a Selic subindo novamente somente em 2019 ou até mesmo em 2020.
Diferentemente da última vez em que esteve em patamar tão baixo, quando o BC teve de retomar a alta seis meses depois, analistas enxergam possibilidade maior de a Selic se sustentar nesse novo nível. Para Gustavo Rangel, economista do ING para América Latina em Nova York, não há risco de aumento de juros no próximo ano, diante do cenário tranquilo para a inflação. BC só fará aperto monetário em 2019 “se necessário”, segundo Rangel.
“Em cenário de eleição encaminhando para candidato com perfil mais reformista, cenário-básico é de manutenção de juros ao longo de todo o decorrer de 2018”, disse Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria. Loyola vê chance de uma queda adicional pequena no começo de 2018, levando Selic a 6,75% em fevereiro, dependendo de como a economia se comportar até o próximo encontro da autoridade monetária. “Se estiver mais acelerada, eventualmente BC pode ser mais conservador”, diz.
Para Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, a Selic encerrará o ciclo de queda em 7% e permanecerá nesse patamar durante período extenso. Ele não considera prudente, contudo, cortar os juros abaixo de 7%, por conta de provável aceleração da inflação em 2018. “É visível para todos os economistas que acompanham política monetária que a taxa de juros está em nível estimulativo. Isso deve favorecer crescimento mais acelerado da economia.”
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