Por Shobhana Chandra e Steve Matthews.
A economia americana tem se movido no ritmo da tartaruga que acabou vencendo o coelho na corrida.
Amplamente criticada pelo crescimento relativamente fraco e pela falta de ganhos salariais, a expansão está prestes a completar oito anos – e deve se tornar a mais longa da história, segundo uma pesquisa da Bloomberg com economistas. Segundo a mediana das estimativas dos participantes, a probabilidade de a fase de crescimento durar pelo menos até julho de 2019 — e então somar 121 meses — é 60 por cento. Esse desempenho seria superior aos 10 anos de ganhos que marcaram a década de 1990.
Esta expectativa se mantém embora o banco central (Federal Reserve) esteja subindo os juros e o plano do presidente Donald Trump de estimular o crescimento por meio da política fiscal pareça cada vez mais longe de se concretizar. À medida que a economia foi superando a crise financeira, a ausência de períodos de disparada ou excessos formou um movimento de expansão mais lento e constante, criando condições para que se prolongue.
“A economia dos EUA parece bem saudável no momento em termos de setores que poderiam implodir”, disse Stephen Stanley, economista-chefe da Amherst Pierpont Securities, em Nova York. Tendo evitado qualquer “retomada violenta” durante a recuperação, a “maioria dos setores aparentemente tem espaço para avançar”, sinalizando continuidade do crescimento moderado, segundo ele.
A força do mercado de trabalho, a inflação contida, os juros baixos e as finanças em ordem darão fôlego ao gasto do consumidor. Já o investimento das empresas, que até agora tem ficado para trás, tende a se tornar outro vetor de crescimento, enquanto o comércio exterior deve deixar de atrapalhar tanto, na expectativa dos entrevistados.
A demanda atual está sendo impulsionada pelo mercado de trabalho. Foram gerados aproximadamente 15 milhões de empregos desde o fim da recessão, em junho de 2009. A taxa de desemprego se encontra no menor nível em 16 anos. Ainda não houve aceleração consistente dos salários, embora o país esteja próximo do pleno emprego.
O gasto das famílias, que representa aproximadamente 70 por cento da economia dos EUA, continua sendo o pilar mais firme do crescimento: o patrimônio acumulado bate recorde, a poupança aumentou e as pessoas passaram a depender menos de empréstimos contraídos com base na valorização dos imóveis residenciais ou tomando linhas de crédito arriscadas.
Porém, as vendas de automóveis, que vinham se destacando nos últimos anos, estão perdendo fôlego. Os descontos ficaram mais frequentes à medida que as concessionárias tentam esvaziar os pátios e as montadoras estão ajustando os planos de produção.
O mercado residencial tem muito chão pela frente. As vendas de imóveis têm sido limitadas pelos estoques baixos mesmo com a alta dos preços, então as construtoras poderão acelerar o ritmo para atender quem quer comprar a primeira casa própria e aos inquilinos que se tornarão proprietários.
As empresas estão mais inclinadas a retomar investimentos em equipamentos em meio a mudanças regulatórias e a um ambiente mais favorável aos negócios. Pesquisas recentes mostram que as encomendas à indústria estão aumentando.
“Há pouca ou nenhuma evidência de que setores cíclicos tradicionais – especificamente de imóveis residenciais, investimentos e bens de consumo duráveis em geral – estejam esticados e, além disso, os balanços patrimoniais dos setores estão razoavelmente sólidos”, afirmaram analistas do Deutsche Bank liderados pelo economista-chefe, Peter Hooper, em relatório distribuído nesta semana. “Para o próximo ano, o risco de a economia começar a ficar superaquecida parece muito maior do que o de uma piora econômica.”
Diversos fatores contribuíram para a redução da velocidade potencial de longo prazo da economia americana. As empresas decidiram contratar em vez de investir em equipamentos. Junto com questões de mensuração, isso ajuda a explicar a pouca variação da produtividade. O envelhecimento populacional reduz a taxa de participação no mercado de trabalho e esse movimento não deve ser compensado por estrangeiros, considerando a postura do governo Trump em relação à imigração.
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