Por Neil Callanan.
A decisão do Reino Unido de abandonar a União Europeia “desencadeou” uma crise nos mercados financeiros semelhante à crise financeira global de 2007 e 2008, disse George Soros ao Parlamento Europeu em Bruxelas.
“Isso vem se desdobrando em câmara lenta, mas o Brexit vai acelerar isso. É provável que reforce as tendências deflacionárias que já prevaleciam”, disse o investidor bilionário nesta quinta-feira.
Soros ficou famoso por ter sido o administrador de recursos que quebrou o Banco da Inglaterra em 1992 ao obter um lucro de US$ 1 bilhão apostando que o Reino Unido se veria obrigado a desvalorizar a libra esterlina e retirá-la do Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio. Ele advertiu que uma aterrissagem forçada na China é “praticamente inevitável” e afirmou que a economia do país, alimentada por dívidas, se parece com a dos EUA no começo da crise financeira.
O sistema bancário da Europa Continental não se recuperou da crise financeira e agora será “severamente testado”, disse Soros. “Sabemos o que precisa ser feito. Infelizmente, divergências políticas e ideológicas dentro da zona do euro têm impedido” o uso do Mecanismo Europeu de Estabilização (MEE) como apoio, disse ele.
O investidor alertou antes do referendo no Reino Unido que a libra poderia cair mais de 20 por cento frente ao dólar se o país votasse por abandonar a UE. A moeda britânica despencou para a cotação mais baixa em 31 anos após o resultado.
Da hipótese à realidade
A decisão do Reino Unido significou que “o hipotético se tornou muito real”, disse Soros na quinta-feira. “A libra esterlina despencou, a Escócia ameaçou se separar e parte da classe trabalhadora que apoiou a campanha pela saída começou a perceber o futuro sombrio que tanto ela quanto o país enfrentarão. Até mesmo os defensores da saída estão retratando as afirmações desonestas que fizeram sobre o Brexit antes do referendo”.
A zona do euro ficou atrás de outras regiões na recuperação global após a última crise financeira “por causa de políticas fiscais restritivas; agora ela tem que lidar com uma desaceleração iminente”, disse Soros. “A ortodoxia das autoridades econômicas alemãs é um empecilho para a única reposta eficaz: ter um orçamento para a zona do euro capaz de adotar políticas anticíclicas”.
Soros pediu que a UE não “puna” os eleitores britânicos e que não ignore suas preocupações legítimas com as falhas do bloco. “Os líderes europeus deveriam reconhecer os próprios erros e admitir o déficit democrático nos atuais arranjos institucionais”, disse ele.
“Os eleitores descontentes na França, Alemanha, Suécia, Itália, Polônia e em todos os outros países consideram que a UE beneficia suas vidas?”, perguntou Soros. “Se a resposta for sim, a UE emergirá com mais força. Se for não, ela acabará se desintegrando”.
Soros disse que quando foi convidado a falar no Parlamento, “a crise dos refugiados era o maior problema enfrentado pela Europa. Desde então, ela teve um papel fundamental na criação do que poderia acabar sendo uma calamidade ainda maior – o Brexit”.
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