Por Alessandro Speciale e Lorenzo Totaro.
A taxa de inflação da zona do euro se tornou inesperadamente negativa em setembro pela primeira vez em seis meses, aumentando a pressão sobre o Banco Central Europeu para reforçar o estímulo.
Os preços ao consumidor no bloco monetário de 19 países caíram 0,1 por cento em relação a um ano atrás, segundo um relatório preliminar publicado pelo escritório de estatísticas da União Europeia em Luxemburgo nesta quarta-feira. Os economistas previam uma taxa de inflação zero, segundo a média das estimativas de 38 analistas de uma pesquisa da Bloomberg. O desemprego na região se manteve inalterado em agosto, em 11 por cento, disse o Eurostat em outro relatório.
Embora a queda dos preços seja em grande parte uma consequência da energia mais barata, várias autoridades econômicas, incluindo o presidente do BCE, Mario Draghi, sinalizaram que poderiam expandir a flexibilização quantitativa se isso for necessário para evitar a deflação. Dois terços dos economistas de uma pesquisa da Bloomberg neste mês disseram que o BCE aumentará seu plano de aquisição de ativos de 1,1 trilhão de euros (US$ 1,2 trilhão) e a maioria dos que deram um prazo prevê que a medida será tomada antes do fim do ano.
Os dados “foram amplamente impulsionados pelo componente da energia”, disse Giada Giani, economista do Citigroup Inc. em Londres. “Há poucas pressões inflacionárias até mesmo excluindo o choque causado pelos preços do petróleo. A inflação deveria ter tocado fundo no ano”.
O petróleo Brent caiu 25% desde o fim de junho em meio à especulação de que o excesso de oferta mundial será prolongado. O petróleo está prestes a registrar seu preço médio trimestral mais baixo desde o começo de 2009.
Os preços da energia caíram 8,9 por cento em setembro em relação ao ano anterior, disse o Eurostat. A inflação de base, que elimina elementos voláteis como os alimentos e a energia, se manteve inalterado, em 0,9 por cento.
Mais estímulo
O BCE provavelmente prolongará a flexibilização para além de setembro de 2016, “mais provavelmente até meados de 2018”, escreveu a Standard Poor’s em um relatório nesta quarta-feira. O programa poderia atingir 2,4 trilhões de euros, disse a agência classificadora.
Contudo, ainda é muito cedo para discutir possíveis mudanças na flexibilização, segundo o membro do Conselho do BCE Ardo Hansson. Falando com repórteres em Tallinn nesta quarta-feira, Hansson disse que “tudo é possível” em relação a uma expansão do programa.
“Muito depende de como a inflação irá se desenvolver, se desacelera ou acelera”, disse ele. “O programa de flexibilização quantitativa foi anunciado em março para 19 meses e só se passaram seis meses. Estamos apenas na etapa inicial”.
Na Espanha, em setembro, os preços ao consumidor caíram 1,2 por cento em relação a um ano atrás, quase o dobro do que os economistas previram e a taxa de inflação da Alemanha se tornou inesperadamente negativa pela primeira vez em oito meses.
Confiança
O revés chega em um momento em que a recuperação da zona do euro mostra sinais de fortalecimento. A confiança econômica aumentou inesperadamente em setembro, para o valor mais alto em mais de quatro anos, porque a confiança melhorou no setor industrial e no de serviços. Um indicador da atividade econômica aponta para uma taxa de expansão de 0,4 por cento no terceiro trimestre em meio ao crescimento de encomendas e trabalhos atrasados.
Mesmo assim, o desemprego só está caindo lentamente do pico de 12,1 por cento de 2013. A taxa de desemprego da regiãodeclinou menos do que foi informado inicialmente em julho e se manteve inalterada em agosto, segundo o relatório do Eurostat.
Em setembro, o BCE previu uma expansão econômica de 1,7 por cento para o ano que vem e uma taxa de inflação de 1,1 por cento.
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