Por Carla Simões e Mario Sergio Lima.
O Brasil tem dinheiro suficiente para cumprir as suas obrigações de dívidas nacionais e estrangeiras, a curto prazo, mas espera enfrentar condições desafiadoras quanto ao mercado de títulos locais no final deste ano, disse o secretário do Tesouro Provisório Otávio Ladeira.
O Tesouro tem reservas para pagar seis meses de dívida e os dólares norte-americanos necessários para fazê-lo até 2016 sem recorrer a mercados de capitais internacionais, disse Ladeira a repórteres na segunda-feira. Ao mesmo tempo, o custo do serviço da dívida está aumentando e o Tesouro prevê que os investidores vão exigir mais títulos de taxa flutuante em meio a crescentes incertezas econômicas.
Os rendimentos dos títulos locais com vencimento em 2023 aumentaram 408 pontos-base nos últimos seis meses, com o aumento das turbulências políticas, a recessão se aprofundando e ampliação do déficit orçamentário. Os investidores continuam relutantes em comprar a dívida de juros fixa, mesmo que a situação do Brasil comece a se estabilizar este ano em meio a uma recuperação na moeda, disse Kathryn Rooney Vera, chefe de pesquisa da corretora e banco de investimentos Bulltick.
“Este ano é muito desafiador”, disse ela. “As finanças públicas estão piorando, o que significa maiores rendimentos e déficits mais elevados para financiar”, disse. “Ainda assim, eu acho que o pior já passou”, acrescentou.
A dívida total do governo brasileiro vai aumentar em até R$ 507 bilhões (US$ 124 bilhões) este ano para 3,3 trilhão de reais, disse o Tesouro em um relatório dia 25 de janeiro. O Brasil tem todos os dólares de que necessita para satisfazer as suas obrigações estrangeiras, que fazem até 5 por cento do total.
Em um esforço para financiar a dívida interna, o Tesouro espera aumentar a participação dos títulos vinculados à taxa básica de juros do Banco Central a uma gama de 30 por cento para 34 por cento, de 22,8 por cento no ano passado. A estratégia do governo nos últimos anos tinha sido aumentar a percentagem de obrigações de taxa fixa para melhorar o planejamento e projeções. Aumentar a porcentagem de obrigações de taxa de juros “é um recuo estratégico durante um período complexo”, disse Ladeira.