Por Anto Antony.
Tateando o caminho com um bastão branco, Vishal Agrawal, 29, chega à sua mesa de negociação cambial no quinto andar do escritório do Standard Chartered no distrito financeiro de Mumbai todos os dias por volta das 8 da manhã.
Enquanto seus outros oito colegas acompanham telas que piscam sem parar para fazer as negociações, Agrawal ouve os movimentos dos preços no terminal de trading através de um software especial de reconhecimento de voz que transmite as informações para um aparelho em seu ouvido esquerdo.
“Escuto os movimentos e faço as negociações”, disse Agrawal, cego há nove anos, em uma entrevista no pregão onde começou como trader de mercados emergentes em setembro de 2013. “Com a ajuda da tecnologia, não acho que seja mais difícil negociar, apesar da minha deficiência visual.”
Ele está se saindo tão bem quanto muitos de seus colegas e tem possibilidade de crescer mais na empresa, disse Gopikrishnan MS, chefe de Agrawal e diretor de câmbio, taxas e crédito em Mumbai para a Ásia Meridional do Standard Chartered. Os limites de trading de Agrawal aumentaram regularmente desde que ele começou, disse Gopikrishnan, sem dar mais detalhes devido à política da empresa. Mas este é um sinal de que Agrawal é bom no que faz.
A Índia tem mais cegos que qualquer outro país do mundo, com 5,4 milhões, e os deficientes visuais costumam ser estigmatizados pelos empregadores, que temem que a deficiência impeça que eles trabalhem e não os contrata, disse Bhushan Punani, secretário executivo da Associação de Pessoas Cegas da Índia. Casos de sucesso como o de Agrawal “são poucos e esporádicos”, disse ele.
“Enquanto não acabar o estigma que a sociedade atribui aos cegos, sair-se bem profissionalmente é uma batalha difícil para eles”, disse Punani.
O Standard Chartered quer ser o empregador preferido por profissionais com deficiências no setor bancário e contratou algumas pessoas com deficiência visual para ocupar cargos seniores em todo o mundo, disse um porta-voz em Mumbai, sem especificar o total. Além disso, o banco contratou pessoas com deficiência para cargos iniciantes de vendas em nove países, disse ele.
Outros traders
Existe apenas um punhado de profissionais cegos conhecidos do setor de finanças no mundo. Wall Street tem pelo menos duas mulheres cegas: Laura Sloate, que ajudou a fundar a Sloate Weisman Murray & Co. e administra o fundo Strong Value; e Lauren Oplinger, que trabalha com a venda de títulos municipais no JPMorgan Chase & Co. em Nova York. Um gestor de recursos cego da BlueCrest Capital Management, Ashish Goyal, que trabalhou anteriormente como gestor de carteira do JPMorgan em Londres, saiu da BlueCrest em maio. Ele atuou como mentor de Agrawal quando este buscava um trabalho, disse ele por telefone de Londres.
“Eu disse a Vishal que tudo o que ele precisava era encontrar uma pessoa disposta a apostar nele”, disse Goyal. “Depois que você encontra alguém que te dá uma chance, o fundamental é o conhecimento e o desempenho é o único que importa, independentemente de se ter uma deficiência.”
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