Por Julia Leite e Ney Hayashi.
Após o aumento das especulações de impeachment da presidente Dilma Rousseff neste mês, os investidores deixaram uma coisa clara: eles preferem que ela permaneça no cargo.
O índice acionário de referência do país, o Ibovespa, caiu 8,4 por cento em agosto devido à preocupação de que sua saída só pioraria a recessão, que os analistas agora preveem que será a mais longa do Brasil desde 1931.
“O processo efetivo de substituição de Dilma — se ela sofresse impeachment ou renunciasse — seria politicamente bagunçado e divisório para o país”, disse Geoffrey Dennis, chefe de estratégia global para mercados emergentes do UBS Securities, por telefone, de Boston. “Mesmo com uma transição direta, não há garantia de que as coisas melhorariam”.
Dilma, 67, disse em entrevista ao SBT, na semana passada, que nunca considerou a possibilidade de deixar o cargo e que divergências não podem levar à deposição de um presidente eleito.
Há um ano, qualquer sinal de que a candidatura de Dilma à reeleição poderia fracassar desencadeava uma euforia no mercado de ações. Mas, com o aprofundamento do mal-estar econômico e o escândalo de corrupção sem precedentes que sacode o país desde que ela tomou posse, há oito meses, os investidores estão sinalizando que o país dificilmente conseguiria suportar a crise política que um impeachment sem dúvida provocaria.
As ações brasileiras se aproximaram de um bear market na quarta-feira, caindo quase 20 por cento em relação ao pico registrado em maio. Enquanto isso, o real perdeu 24 por cento de seu valor neste ano, pior desempenho entre as principais moedas do mundo. No mercado de dívida, os retornos pagos pelos bônus soberanos do país subiram para um nível recorde neste mês.
A assessoria de imprensa presidencial não respondeu a um e-mail com um pedido de comentário sobre os impactos da crise política nos mercados brasileiros.
Manifestações nas ruas
Os pedidos de impeachment de Dilma ganharam impulso nas últimas semanas e mais de meio milhão de pessoas tomaram as ruas em 16 de agosto para protestar contra a corrupção e a má gestão econômica em seu governo. Uma pesquisa realizada nos dias 4 e 5 de agosto pelo Datafolha mostrou que a popularidade da presidente entre os brasileiros afundou para 8 por cento, um nível sem precedentes, e mais de dois terços dos entrevistados disseram que apoiam o impeachment.
Pela primeira vez os analistas agora projetam que a maior economia da América Latina vai se contrair neste ano e no próximo. A inflação acelerou para 9,6 por cento em julho, mais de duas vezes a meta do Brasil, mesmo após o Banco Central elevar as taxas de juros ao nível mais alto desde 2006.
“As coisas têm piorado a um ritmo que excede até mesmo as expectativas mais pessimistas”, disse Dan Raghoonundon, um gestor de recursos da Janus Capital Management LLC em Denver, EUA, por telefone. “Os mercados agora pensam, ‘ah não, mais um problema’, quando olham para a situação política — além dos cenários doméstico e externo negativos”.
Impulso ao mercado
A queda global das commodities também está causando impacto no Brasil, que é o maior exportador de café e soja do mundo.
Contudo, Felipe Miranda, analista da firma de assessoria de investimentos Empiricus Research, disse que a saída de Dilma do cargo poderia ser a melhor chance de o mercado de ações se recuperar a longo prazo.
“Se houvesse uma coalizão para assumir o controle das coisas depois que esta equipe saísse, as ações subiriam”, disse ele, por telefone, de São Paulo.
São necessários pelo menos dois terços dos votos na Câmara dos Deputados para iniciar o processo de impeachment. Dilma teria, então, que deixar o cargo temporariamente até que o Senado ou o Supremo Tribunal Federal tomasse uma decisão final a respeito do impeachment.
Nas últimas duas semanas, Dilma tentou construir uma coalizão que pudesse permitir que ela se mantenha no poder. Associações empresariais, banqueiros e alguns dos maiores grupos de mídia do país se juntaram a trabalhadores e produtores rurais, tradicionalmente alinhados ao Partido dos Trabalhadores, ao posicionarem-se contra o impeachment.
“Os investidores não gostariam da incerteza” se Dilma fosse deposta, disse Dennis, do UBS. “É muito difícil argumentar que isso seria positivo para os mercados”.
Para ter acesso a notícias em tempo real entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.