Por Ellen Huet.
Tracy Chou escreveu no Medium, em outubro de 2013, um texto que desafiava as empresas de tecnologia a contar para o mundo qual porcentagem de seus engenheiros de software era mulher. Surpreendentemente, deu certo: Google, Apple, Facebook e outras companhias publicaram seus dados estatísticos desproporcionais de raça e gênero, e Chou, que na época era engenheira de software do Pinterest, se tornou uma das caras do movimento pela diversidade no setor tecnológico. O Pinterest se posicionou como uma empresa que trabalha para contratar mais mulheres, assim como trabalhadores negros e latinos. Em 2015, a companhia tomou uma decisão inédita: publicou um conjunto de metas de contratação baseadas na diversidade. A empresa lutaria para que 30 por cento dos engenheiros contratados fossem mulheres e publicaria um relatório sobre seu avanço em um ano.
Dezesseis meses depois, o Pinterest recuou. Apesar de todos os esforços, apenas 22 por cento dos novos engenheiros eram mulheres e, em resposta a isso, a companhia reduziu sua meta para o próximo ano, de 30 por cento para 25 por cento. A empresa havia conquistado e superado seus objetivos em duas outras categorias — com 8 por cento das contratações de engenheiros de minorias étnicas subrepresentadas, por exemplo. O Pinterest afirmou que não conseguiu atingir a meta de mulheres na engenharia porque se concentrou em contratar mulheres mais seniores, e isso demora mais. Mas ter admitido que não cumpriu a meta e que reduziria as expectativas foi uma decepção. “Obviamente, todos esperávamos que o resultado fosse melhor e ficasse mais perto de 30 por cento”, disse Chou, que saiu da companhia em junho.
A diretora de diversidade do Pinterest, Candice Morgan, disse que a companhia estipula metas que são desafiadoras e que acredita que tem 70 por cento de chances de cumpri-las.
O grande objetivo do Pinterest — e sua posterior recuada — mostra que as ambições de diversidade das empresas de tecnologia vêm com seu próprio conjunto de problemas e desafios. Nos dois anos que passaram desde que os gigantes do setor revelaram pela primeira vez que a maioria de seus funcionários são homens brancos ou asiáticos, sua diversidade só aumentou uns poucos pontos percentuais — ou, em alguns casos, caiu. A primeira reação da maioria das empresas foi tentar um processo de contratação mais “às cegas”: tirar nomes e fotos dos currículos, por exemplo, para excluir informações que pudessem influenciar involuntariamente um entrevistador a favor ou contra um candidato.
Agora, algumas companhias querem fazer mais do que tampar os olhos. Não basta simplesmente publicar dados demográficos e apagar nomes e fotos dos currículos. Ao contrário de outras companhias, Twitter e Pinterest estipularam metas específicas de contratação. Facebook deu recompensas extras a seus recrutadores por “contratações diversificadas”. Microsoft vai vincular o bônus dos gerentes à diversidade na contratação porque a proporção de trabalhadoras mulheres caiu por dois anos consecutivos. Até mesmo startups pequenas — como Penny, uma financeira de quatro pessoas em São Francisco que é o assunto do mais recente capítulo do podcast Decrypted, da Bloomberg — estão avaliando se os candidatos trazem uma perspectiva nova para a equipe, além de suas capacidades técnicas. Algumas companhias estão adotando a ação afirmativa na contratação, embora tomem o cuidado de não chamá-la por esse nome.
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