Por Fabiola Moura.
Mark Zuckerberg voltou a criticar as autoridades brasileiras pelo bloqueio temporário do WhatsApp, o serviço de mensagens controlado pelo Facebook que é fundamental na comunicação por smartphones da maior parte da população do país.
“A ideia de que todos os brasileiros possam ter seu direito à liberdade de comunicação reprimido desta forma é muito assustadora em uma democracia”, disse Zuckerberg, CEO do Facebook, em uma postagem de blog na terça-feira.
A interrupção de cerca de 24 horas foi o resultado da ordem de um juiz da cidade de Lagarto, no interior do Sergipe. O Facebook está travando uma batalha com a Justiça brasileira relacionada ao acesso às comunicações privadas de seus usuários. Um juiz restabeleceu o serviço na terça-feira. “Vocês se expressaram e suas vozes foram ouvidas. Quero agradecer à nossa comunidade por nos ajudar a resolver essa situação”, disse Zuckerberg, referindo-se aos usuários do aplicativo.
O WhatsApp, que foi comprado pelo Facebook em 2014 por US$ 22 bilhões, é onipresente no Brasil. Sua base de usuários no país é de 100 milhões, o que significa que cerca de metade da população usa o aplicativo. Familiares e amigos se comunicam pelo aplicativo. Donos de lojas coordenam entregas por meio dele. Corretores imobiliários colocam o número do WhatsApp no cartão de visita.
O aplicativo também entrou no tumultuado cenário político do Brasil. No mês passado, o vice-presidente Michel Temer usou o serviço para enviar uma gravação em que ensaiava o discurso que pretendia dar no caso de impeachment da presidente Dilma Rousseff — o processo ainda está em andamento e uma votação crucial está programada para a semana que vem. A equipe de Temer disse que o arquivo de áudio foi enviado por acidente.
Trending Topic
A popularidade do WhatsApp explica por que a decisão do juiz de bloquear o aplicativo no Brasil — originalmente por 72 horas — ganhou, na terça-feira, as primeiras páginas dos principais jornais do País, ao lado das últimas reportagens sobre o impeachment da presidente e das investigações de corrupção. Explica também como a distante cidade de Lagarto chegou ao trending topics do Twitter no Brasil, com a multidão de usuários do aplicativo recorrendo à rede social para desabafar sua frustração com a suspensão do serviço.
Agora, com a restauração do acesso ao aplicativo, o WhatsApp continua sendo um dos assuntos mais comentados. Lagarto saiu da lista.
Antes de a ordem ser cancelada o WhatsApp disse que estava “decepcionado” com a decisão, afirmando que não guarda os registros das conversas dos usuários e que, portanto, não tem condições de entregar os dados. Em março, um executivo do Facebook no Brasil foi detido porque supostamente não cooperou com ordens judiciais relacionadas a informações postadas no site da empresa em uma investigação sobre tráfico de drogas.
O bloqueio do WhatsApp no Brasil ocorre em um momento em que as maiores empresas de tecnologia do mundo sofrem pressão de lados opostos: dos governos, para que tornem seu conteúdo disponível para a Justiça, e de consumidores e empresas, que buscam privacidade para suas comunicações e dados. A Apple, a Amazon, o Google e a Microsoft denunciaram o que chamam de expansão sem precedentes do poder do governo que, segundo as empresas, ameaça a privacidade de centenas de milhões de pessoas.
Alguns usuários procuraram outros aplicativos de mensagens gratuitas para evitar gastos adicionais com mensagens de texto e ligacões telefônicas. O Telegram Messenger — que ganhou força no Brasil em dezembro quando o acesso ao WhatsApp foi bloqueado pela primeira vez — disse no Twitter que quase um milhão de novos usuários haviam aderido ao serviço no País e que mais pessoas aguardavam o processamento de seus pedidos. O aumento se soma a 1,5 milhão de usuários que se inscreveram após o incidente de dezembro.
Ao mesmo tempo, algumas operadoras resolveram o assunto por seus próprios meios. A Tim, subsidiária da Telecom Italia, suspendeu a cobrança das mensagens de texto de seus 67 milhões de clientes enquanto o acesso ao WhatsApp esteve bloqueado.
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